20 setembro, 2010

dois

Ela acordou. O relógio apitava. Eram quatro horas da tarde. Ela mal conseguia abrir os olhos. O cansaço era maior. Aquela noite havia sido extremamente cansativa. Ela se virou. Do outro lado da cama, apenas um vazio. Nada. Um silêncio inquebrável. Seus olhos encheram-se de água. Talvez de sono, talvez de tristeza. Aparentemente, não era apenas a cama que estava vazia: no cerne do seu ser, nada; ela era tão vazia quanto a sua vida, e sentia-se assim. Ela fechou os olhos, procurando ignorar aqueles pensamentos, e tornou a dormir um sono irrequieto, que apenas a cansava e agravava mais. Uma tortura puramente onírica, boa forma de começar o dia ou a tarde. Boa forma de sofrimento. Por três longas horas ela ficou presa naquele mundo torturante para só então acordar. Ela abriu os olhos. A escuridão já havia tomado o quarto. Permaneceu olhando para o teto em total torpor por alguns longos e inacabáveis minutos até sua visão se acostumar àquele breu. Slêncio. E podia apenas ouvir o som da sua respiração. Ela olhou para o lado. A cama. Vazia. Seus olhos encera-se de lágrimas novamente. - Caralho, eu ainda estou lacrimejando de sono? - ela resmungou para si mesma enquanto se levantava. Ela era tão patética. A forma como ela fugia da realidade, sempre. Seja com mentiras ou com picos. Sim, picos. Ela foi até a gaveta e pegou uma seringa. Seguiu, com a seringa na mão, até a cozinha. A fome era tamanha... Ela abriu a geladeira e pegou a caixa de leite, tomando seu conteúdo aos borbotões. Um cheiro de azedo se espalhou pela cozinha pequena e mal iluminada. Caralho, o leite havia azedado! -Tanto faz, e não me importo - repetiu para si mesma e continuou a beber o conteúdo estragado da caixa. Ela era o retrato da decadência humana. Em pensar que ela já fora alguém algum dia...
- Foda-se - ela murmurou, preparando-se para mais uma injeção. - Foda-se esse leite maldito. Ai!, logo viria o torpor, logo mais...

Nenhum comentário:

Postar um comentário