16 abril, 2011

Não era

Recostado na parede, fumava. Uma carteira velha de Lucky Strike tirada do bolso do seu moletom desbotado, não era tão velho, mas era o que ele mais gostava de usar. Segundo ele o mais bonito que havia em seu guarda-roupa. Havia comprado aquela carteira há séculos e entocado no móvel do quarto.
- Essa merda deve estar mofada - falava pelo canto da boca enquanto acendia, com um isqueiro, o cigarro.
O cheiro da fumaça se misturava com o doce aroma das pessoas que passavam ao seu lado. Ele não parecia se importar. - Foda-se - diria ele, se questionado sobre o porquê de estar fumando ali, na frente do banheiro feminino. Genioso, era isso que ele era genioso. Mas ele estava, sim, a esperar alguém. Alguém que talvez não viesse tão cedo. Alguém com quem ele não se importava tanto assim - ou, vai ver, apenas fingia que não. Sophie.
Lá dentro, debruçada sobre o vaso sanitário, Sophie vomitava e esperava alguém. Ele. Ambos esperavam, mas nenhum dos dois viria ao encontro do outro. Assim eles iriam permanecer. Ele com o casaco surrado, uma carteira de cigarros vazia na mão e a esperança de encontrá-la e ela jogado no chão, completamente suada, vomitada e desesperada sem ele. Vai ver não era para ser. Ou seria, mas não naquele dia.

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