22 março, 2011

Veleiro

Sempre vi em filmes o quão românticas são as cenas de casais em barcos, em um fim de tarde. E isso sempre me chamou atenção. E decidi que estava na hora de escrever algo desse tipo.
O vento não chegava naquela tarde. E quando vinha, era incapaz de mover as velas que nos levariam adiante. Estávamos lá, parados olhando como os tons do céu já começavam a mudar de cor rapidamente. Era um dia comum, e nós dois estávamos parados. Do jeito que você e eu bem sabemos qual era. Nada de mais acontecia, só sentíamos o clima ainda meio pesado, um clima de despedida pode-se dizer. O dia estava lindo lembra? Era o nosso ultimo dia no navio depois de três meses rumo a terras desconhecidas para ambas as partes. Até pararmos, e ficarmos olhando o mar juntos, de mãos dadas e depois disso, aquela conversa de olhares, nunca havia percebido o quão castanhos eram seus olhos, que na verdade já havia reparado, mas não com tanta intensidade como nesta tarde. No começo da tarde paraste ao meu lado no convés, olhando o mar, naquele dia que estava quente. Olhei para o lado e via quanto a cor dos seus cabelos ficavam bonitas naqueles tons de laranja, rosa e verde, e no sol baixo do fim de tarde e como sua camisa combinava perfeitamente com a cor de sua pele. Na primeira vez que te vi, pensei que você era mais um João que eu havia conhecido que estava no mesmo barco que eu, até então. Até aquele momento, pelo menos. Nada havia sido tão intenso quando aquele nosso primeiro olhar, no fundo dos teus olhos castanhos. Acompanhado do seu semi-sorriso. Falamos pouco, e nos afastamos. Lembro de todos os momentos com os detalhes mais inúteis (pelo menos foi o que algumas pessoas disseram quando eu contei). Nós estivemos muito próximos. Senti seu cheiro, seu cheiro que é inconfundível. Você sentiu o meu. Nós ficamos próximos e ainda mais próximos. Naquele momento eu te queria para sempre. Os ventos voltaram a soprar e meus cabelos castanhos moviam-se com uma leveza esplendida, enquanto nossos olhares se cruzaram mais uma vez. Eu ainda olhava para você, e você para mim. Quiseste dizer algo, mas tua boca, ainda que aberta, não ousou pronunciar sequer uma palavra. Eu saí com o vento nas costas rumo a minha cabine, antes de desaparecer de vez de sua vista dei uma ultima olhada para trás e vi que seus cabelos também se moviam, dei um sorriso e neste momento eu queria correr para os seus braços. Talvez nos vejamos novamente. Talvez não. Talvez sejamos uma boa lembrança. Quem sabe um dia tu se lembra de mim e me procura? Ou talvez por algum motivo me queiras longe? Ninguém sabe. Acho que nem mesmo você sabe. Mas sei que ao despertar do próximo dia, você poderá estar longe. E desejar que ainda haja na tua vida, espaço para uma mulher de um dia sem vento. Um dia em que paraste para contemplar a vida. E espero que um dia esse vento volte, e me
traga você de volta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário